PRODUCTOS NATURALES
Atividade antifúngica dos compostos isolados de Praxelis clematidea (Griseb.) R. M. King & H. Robinson contra cepas de Candida parapsilosis
La actividad antifúngica de los compuestos aislados Praxelis clematidea (Griseb.) R. M. King & H. Robinson frente a cepas de Candida parapsilosis
Antifungal activity of the isolated compounds Praxelis clematidea (Griseb.) R. M. King & H. Robinson against Candida parapsilosis strains
Abrahão Alves de Oliveira Filho,I Heloísa Mara Batista Fernandes de Oliveira,II José Pinto de Siqueira Júnior,II Gabriela Lemos de Azevedo Maia,III José Maria Barbosa Filho,II Edeltrudes de Oliveira LimaII
I Universidade Federal de Campina
Grande, Patos, Paraíba, Brasil.
II Universidade Federal da Paraíba, João
Pessoa, Paraíba, Brasil.
III Universidade Federal do Vale do São Francisco,
Petrolina, Pernambuco, Brasil.
RESUMO
Introdução: as pesquisas com
produtos naturais oriundos de plantas têm aumentado com a necessidade de
novas ferramentas terapêuticas para o combate das infecções fúngicas
oportunistas, como as causadas pela Candida parapsilosis.
Objetivo: avaliar o potencial
antifúngico de compostos isolados da espécie Praxelis clematidea
(Griseb.) R. M. King & H. Robinson.
Métodos: a determinação
da CIM (Concentração inibitória mínima) das substâncias,
foi realizada através da técnica da microdiluição em caldo.
Utilizou-se as seguintes cepas de Candida parapsilosis (LM 2, LM 4, LM9,
LM 14). Todos as cepas de micro-organismos utilizados neste estudo fazem parte
da MICOTECA do Laboratório de Micologia, da Universidade Federal da Paraíba.
Foi realizado controle de viabilidade das cepas ensaiadas, e também controle
de sensibilidade destas cepas ao antimicrobiano Nistatina 100 UI/mL.
Resultados: pode-se observar que todos
os compostos avaliados apresentaram uma CIM50 (Concentração
Inibitória Mínima para 50 % das cepas testadas) de 512 µg/mL
para as cepas fúngicas testadas.
Conclusão: conclui-se que os compostos
oriundos da planta Praxelis clematidea podem se uma alternativa para
o tratamento de infecções fúngicas causadas por cepas de Candida
parapsilosis.
Palavras-chave: antifúngico; produto natural; Candida parapsilosis.
RESUMEN
Introducción: la investigación
en productos naturales de plantas ha incrementado la necesidad de nuevas
herramientas terapéuticas para combatir las infecciones fúngicas oportunistas
tales como las causadas por Candida parapsilosis.
Objetivo: evaluar el potencial antifúngico de compuestos aislados
de la especie Praxelis clematidea (Griseb.) R. M. King & H.
Robinson.
Métodos: la determinación de
la CIM (concentración inhibitoria mínima) de las sustancias fue realizada
mediante la técnica de microdilución en caldo. Se utilizaron las siguientes
cepas de Candida parapsilosis (LM 2, LM 4, LM9, LM 14). Todas las cepas
de microorganismos utilizadas en este estudio son parte de la colección
de micología del Laboratorio de Micología de la Universidad Federal
de Paraíba. Se realizó el control de la viabilidad de las cepas ensayadas,
así como el control de la sensibilidad de estas, frente al antimicrobiano
Nistatina 100 IU/mL.
Resultados: se puede observar que todos
los compuestos evaluados mostraron una CIM50 (concentración
inhibitoria mínima para el 50 % de las cepas ensayadas) a 512 µg/mL
para las cepas fúngicas ensayadas.
Conclusión: se concluye que los compuestos
derivados de la planta Praxelis clematidea pueden ser una alternativa
para el tratamiento de infecciones fúngicas causadas por cepas de Candida
parapsilosis.
Palabras clave: producto natural; potencial antifúngico; Candida parapsilosis.
ABSTRACT
Introduction: Research on natural products
from plants have increased the need for new therapeutic tools to fight opportunistic
fungal infections such as those caused by Candida parapsilosis.
Objective: To evaluate the antifungal potential of the compounds isolated
ofrom Praxelisclematidea (Griseb.) R. M. King & H. Robinson.
Methods: Determination of the minimum inhibitory concentration of the
substance was performed using the broth microdilution technique. The following
strains of Candida parapsilosis (LM 2, LM 4, LM 9, LM 14) were used. All microorganism
strains used in this study were part of the mycology collection of the Mycology
Laboratory of the Federal University of Paraíba. Viability control was
carried in tested strains, and also sensitivity control of these strains with
100 UI/mL antimicrobial Nystatin.
Results: It can be seen that all the compounds evaluated showed a MIC50
(minimal inhibitory concentration for 50 % of tested strains) equal to 512 µg/mL
for the tested fungal strains.
Conclusion: It is concluded that the compounds derived from the Praxelisclematidea
plant cmay become an alternative for the treatment of fungal infections caused
by Candida parapsilosis strains.
Keywords: Natural product; antigungal potential; Candida parapsilosis.
INTRODUÇÃO
O uso de plantas medicinais advém do conhecimento empírico, o qual foi adquirido e acumulado durante milênios e que é transmitido através da cultura popular.1,2 Com a evolução da ciência e dos métodos experimentais, as atividades terapêuticas das plantas começaram a ser estudadas sob o aspecto dos constituintes químicos, com a busca do isolamento de princípios ativos para pesquisar os efeitos que tais substâncias exerciam sobre o organismo animal.3
Desta forma, o uso das plantas medicinais, tem ressurgido como uma opção medicamentosa bem aceita e acessível aos povos, e no caso do Brasil é adequada para as necessidades locais de centenas de municípios brasileiros no atendimento primário à saúde, em especial a classe desfavorecida, com o intuito de suprir a carência de medicamentos pouco eficazes e de custos elevados.4
Uma importante família do reino vegetal brasileiro é a Asteraceae, que possui aproximadamente 180 gêneros e 3000 espécies distribuídas em todas as regiões do país.5 Esta família é conhecida pelas propriedades terapêuticas, cosméticas e aromáticas. Já é relatado na literatura o uso medicinal dessa família como anti-helmíntico, anti-inflamatório, adstringente, anti-hemorrágico, antimicrobiano, diurético, analgésico e antiespasmódico.6-10
Dentre tantas espécies da família Asteracea pode-se destacar a Praxelis clematidea (Griseb.) R. M. King & H. Robinson, planta pertencente à tribo Eupatorieae, que já foi identificada por apresentar um potencial farmacológico gastroprotetor frente à úlcera gástrica induzida em animais com etanol, estresse e anti-inflamatório não esteroidal.11
A partir do fracionamento do extrato etanólico bruto das folhas dessa espécie, foi obtida a fase clorofórmica, da qual foi isolado o 5,7,4'-trimetoxiflavona (TMF), flavonoide do tipo flavona, pouco relatado na literatura com relação aos suas propriedades farmacológicas.
Com base nos poucos estudos abordando Praxelis clematidea, objetivou-se avaliar em conjunto as atividades antifúngicas dos produtos obtidos desta espécie.
MÉTODOS
OBTENÇÃO E PREPARAÇÃO DAS SUBSTÂNCIAS TESTES
Para a realização dos estudos in vitro utilizou-se o extrato etanólico, a fase clorofórmica e o flavonoide TMF, cedidos pela equipe dos Prof. Dr. José Maria Barbosa Filho e da Prof. Dra. Gabriela Lemos de Azevedo Maia, obtidos das partes aéreas da espécie Praxelis clematidea, que foi coletada no município de Santa Rita-PB, em maio de 2008 e identificada pela Prof. Dra. Maria de Fátima Agra, do setor de botânica do Programa de Pós-Graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos (PgPNSB). Uma exsicata da planta está depositada no herbário Prof. Lauro Pires Xavier (JPB), da UFPB, sob código M. F. Agra et al. 6894 (JPB).
CEPAS DE MICRO-ORGANISMOS
Para os ensaios de atividade antifúngica, foram utilizadas as seguintes cepas deCandida parapsilosis (LM 2, LM 4, LM9, LM 14). Todos as cepas de micro-organismos utilizados neste estudo fazem parte da MICOTECA do Laboratório de Micologia, Departamento de Ciências Farmacêuticas, Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba. Todas as cepas foram mantidas em ágar nutriente a uma temperatura de 4 °C. Foram utilizados para os ensaios repiques de 24 h em meio nutriente incubados a 35 °C.
DETERMINAÇÕES DA CONCENTRAÇÃO INIBITÓRIA MÍNIMA
(CIM)
Os ensaios de atividades antifúngica e antibacteriana foram realizados conforme CLSI (2008).12
A determinação da CIM das substâncias, foi realizada através da técnica da microdiluição em caldo. Inicialmente, foram distribuídos 100 μL de caldo nutriente duplamente concentrado nos orifícios das placas de microdiluição. Em seguida, 100 μL da emulsão dos produtos, também duplamente concentrado, foram dispensados nas cavidades da primeira linha da placa. E por meio de uma diluição seriada a uma razão de dois, foram obtidas concentrações de 1 024 µg/mL até 16 µg/mL, de modo que na primeira linha da placa estava a maior concentração e na última, a menor concentração. Por fim, foi adicionado 10 µL do inóculo das espécies nas cavidades, onde cada coluna da placa refere-se a uma cepa de micro-organismo, especificamente.
Paralelamente, foi realizado controle de viabilidade das cepas ensaiadas. E também controle de sensibilidade destas cepas frente à ação de antimicrobianos considerados padrões na utilização clínica (nistatina 100 UI/mL). Para verificar a ausência de interferência nos resultados pelo solvente utilizado na preparação da substância, no caso o cremofor, foi feito um controle no qual foi colocado nas cavidades 100 µL do caldo duplamente concentrado, 100 µL do cremofor e 10 µL da suspensão.
As placas foram assepticamente fechadas e incubadas a 35 °C por 24-48 h para ser realizada a leitura. Define-se a CIM para os produtos testados como a menor concentração capaz de produzir inibição visível sobre o crescimento do micro-organismo verificado nos orifícios, quando comparado com o crescimento controle. Os ensaios foram realizados em duplicata e o resultado expresso pela média aritmética das CIM's obtidas nos dois ensaios.
RESULTADOS
Após a realização dos protocolos experimentais pode-se perceber que o extrato etanólico bruto (EEPC) apresentou um valor de CIM50 (Concentração Inibitória Mínima para 50 % das cepas testadas) de 512 µg/mL (Tabela 1).
O mesmo perfil de efeito foi observado tanto para a fase clorofórmica (FCPC),
quanto para o flavonoide (TMF) isolado (Tabelas 2, 3),
demonstrando assim uma concordância no efeito antifúngico entre os
três compostos oriundos da espécie Praxelis cleatidea.
DISCUSSÃO
Sartoratto et al. (2004)13 propuseram uma classificação
do potencial antimicrobiano para produtos vegetais com base nos resultados da
CIM, considerando como: forte poder antimicrobiano-produtos com CIM de 0,05
até 0,5 mg/mL; moderado poder antimicrobiano-produtos com CIM entre 0,6
até 1,5 mg/mL e fraco poder antimicrobiano-produtos com CIM acima de 1,6
mg/mL.
Com base nesta classificação, pode-se perceber que todos os compostos testados (EEPC, FCPC e TMF) apresentaram um forte efeito aintifúngico
contra as cepas de Candida parapsilosis, visto que todos apresetrama um valor de CIM50 igual à 512 µg/mL. Este perfil de
atividade já foi apresentado por outros estudos com diferentes espécies vegetais da família Asteraceae.14-16
Vários estudos na literatura já abordaram o efeito antimicrobiano, em especial, antifúngico dos flavonoides, como por exemplo a capacidade
(constituinte da flavona Scutellariabaicalensis) foi descrita contra espécies de Candidaalbicans, Candida tropicalise Candida parapsilosis. Destaca-setambém um papel promis sorrelativamentea o sinergis modesta flavona com
fluconazol contrainfeções por Candida.17,18
A atividade antifúngica dos flavonoides deve-se provavelmente àcapacidad ed estes compostos em formar complexos com proteínas solúveis
presentes nas paredes das células fúngicas19. Por outrolado, anatureza lipofílicados flavonoidesé também capaz de
romperas membranas dosfungos.19,20
Por tanto, pode-se concluir que o extrato etanólico bruto, a fase clorofórmica
e o flavonoide isolado de Praxelis clematidea apresentam um forte efeito
antifúngico contra diferentes cepas de Candida parapsilosis. Entre tanto, estudos complementares devem ser realizados, para a avaliação
de outros parâmetros biológicos, bem como, a sua toxicidade e a eficácia
terapêutica.
Conflictos
de intereses
Los autores declaran no presentar conflicto de intereses.
REFERÊNCIAS
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Recibido: 24 de septiembre de 2015.
Aprobado: 21 de octubre de 2015.
Abrahão Alves de Oliveira Filho.
Universidade Federal de Campina Grande, Patos, Paraíba, Brasil.
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